Sinopse: Depois de perder a irmã gêmea para a leucemia, Ashlyn Jennings é enviada pela mãe descompensada para a casa do pai, com quem mal conviveu até então. Devastada, Ashlyn viaja de trem para Edgewood carregando poucos pertences, muitas lembranças e uma caixa misteriosa deixada pela irmã. Na estação, Ashlyn conhece o músico Daniel, um rapaz lindo e gentil. A atração é imediata, e, depois de um encontro romântico, os dois descobrem que compartilham não só o amor pela música e por William Shakespeare, mas também a dor provocada por perdas irreparáveis. O único problema é que, quando Ashlyn começa o ano letivo na escola onde o pai é diretor, descobre que Daniel é o Sr. Daniels, seu professor de inglês, com quem não pode de jeito algum ter um relacionamento amoroso. Desorientados, os dois precisam manter seu amor em segredo, e são forçados a se ver como dois desconhecidos na escola. E, como se isso já não fosse difícil o bastante, ainda precisam tentar de todas as formas superar problemas do passado e sobreviver a alguns conflitos inesperados e dramáticos que a vida apresenta – e que poderiam separá-los para sempre.
Eu confesso que não gosto muito de histórias que carregam muito drama, porque demoro pra desapegar dos personagens e fico triste durante toooda a história (e um pouco depois dela também), como aconteceu com "O Lado Feio do Amor" .
Daniel Daniels e Ashlyn se encontram em um trem e logo têm seus interesses despertados. Eles até se encontram depois num bar, mas logo descobrem que serão aluna e professor. O pior de tudo: O pai de Ashlyn é o diretor do colégio, ou seja, chefe de Daniel o que complica muito mais as coisas.
O livro aborda, além de histórias de superação de perdas, assuntos como bullying, homossexualidade, o vício em drogas e bebidas, mas acima de tudo ele retrata a culpa e o valor de estar vivo.
Depois desse livro eu enxerguei algumas coisas mais nitidamente e percebi o quanto nós nunca estamos satisfeitos com o que temos até que nos despedimos (muitas vezes, eternamente) a elas. O quanto nossa vida pode ser ruim, mas não tão péssima ao ponto de a jogarmos fora ou desvalorizá-la.
Ashlyn acaba de perder a irmã que, por sua vez, deixa cartas que só poderão ser lidas ao longo do tempo em que ela fizer o que está numa lista, deixada junto com as cartas. Mas perder um irmão não é tão fácil de superar e Ashlyn sabe disso, mas ao encontrar Daniel vê a possibilidade de compartilhar sua dor, minimizando não só a dela, como a dele também.
Daniel é um cara tranquilo, meio atormentado pela avalanche de tragédias que marcaram sua vida (algo em comum com Ashlyn) e por isso não se abre tão facilmente para as pessoas, exceto ela. A menina dos olhos mais tristes que ele já viu. Daniel é sensacional do começo ao fim, a sua única culpa é a de amar tanto Ashlyn ao ponto de protegê-la a todo custo.
O livro é maravilhoso. Vou deixar um pedacinho de spoiler para vocês sentirem só um pouco das sensações que ele traz.
"Demos várias voltas no quarteirão. Não sei por que, mas começamos a compartilhar histórias sobre nossas vidas. Na terceira volta, Daniel me contou de seu pai, como nunca tinham sido muito próximos até sua mãe morrer. Então eles se aproximaram muito, e ele lamentou os anos que havia perdido por causa desse distanciamento. Ele parou na esquina da rua Humboldt com a avenida James e respirou fundo. Olhando para o céu, ele entrelaçou os dedos em sua nuca e fechou os olhos. Não falei nada, porque o pesar de sua linguagem corporal estava dizendo tudo o que precisava ser dito. Fiquei sabendo que ele tinha um irmão, mas quando perguntei sobre ele, Daniel ficou tenso.
— Nós não nos falamos. — As palavras saíram mais frias do que qualquer coisa que eu tinha ouvido dele antes. Não perguntei mais nada sobre o assunto.
Na quarta volta, nós rimos de como estávamos excessivamente cansados e de como não conseguíamos dormir de verdade. Na sexta volta eu chorei. Começou com algumas lágrimas, mas logo se transformou em um verdadeiro chafariz, e Daniel não me pediu que explicasse. Ele me abraçou e me puxou para seu peito, e murmúrios suaves saíam de seus lábios. Tentei dizer a ele que eu ficaria bem, mas ele me censurou. Disse que estava tudo bem não estar tudo bem. Explicou que era bom se sentir despedaçado às vezes, não sentir nada além de dor. Ficamos na sexta volta por mais tempo, ele sussurrando em meus cabelos que algum dia, de alguma forma, a dor seria eclipsada pela alegria.
Pouco depois, contei a ele sobre a lista que Gabby havia criado para mim, e ele pediu para lê-la. Abrindo minha bolsa, peguei a folha de papel dobrada e entreguei a ele. Ele segurou-a com cuidado, desdobrando-a lentamente. Vi seus olhos viajarem da esquerda para a direita, enquanto ele descia pela lista.
— Fazer bambolê em uma loja de departamentos? — perguntou, erguendo uma sobrancelha.
Eu ri, confirmando com a cabeça.
— Cantar uma música de Michael Jackson em um bar de karaokê, fazendo os passos de dança?
— Dá para acreditar? Essa era mais o estilo de Gabby do que o meu — respondi. Ele sorriu antes de dobrar a folha de novo e devolvê-la para mim. Então me perguntou quantos itens eu tinha realizado até agora, fazendo-me suspirar.
— Nenhum, ainda. Era para eu dançar no bar hoje à noite... mas, como você testemunhou, tive um pequeno colapso nervoso.
— Então você ainda não leu nenhuma carta da sua irmã?
— Ainda não. Eu meio que quero abrir todas elas logo, mas...
Ele riu e começou a dar voltas no quarteirão de novo.
— Mas você não quer ser dessas.
— Dessas? — questionei, parada de pé, olhando para ele.
— Você sabe. Do tipo que desobedece à irmã gêmea morta.
Eu sorri. Sabia que era esquisito, e alguns condenariam o que ele tinha dito, mas sorri porque, caramba... tinha sido engraçado. Eu sentia falta de momentos engraçados na minha vida.
— Você está certo. Eu não ousaria ser dessas.
— Além disso... — Ele se virou e mordeu o lábio inferior. Aproximou-se de mim e de brincadeira me cutucou no ombro. — Você está prestes a completar uma das tarefas na lista. — Quando ele disse isso, meu nariz se mexeu e minhas sobrancelhas arquearam. Ele riu da minha reação. Quando seu rosto ficou mais perto do meu, soltei o ar pela boca, roçando meus lábios nos dele. A sensação foi de que nossas bocas ficaram uma eternidade a milímetros de distância, mas foi só por alguns segundos.
Seus lábios não só pareciam macios e beijáveis, também pareciam habilidosos. Como se pudessem beijar alguém mesmo que estivessem do outro lado do mundo, e fazer essa pessoa derreter. Não demorou muito para eu constatar quão talentosos aqueles lábios eram. Nossas bocas se conectaram de uma forma que eu nunca tinha experimentado. Era preciso criar um novo adjetivo para esse tipo de beijo. Terapêutico. Pungente. Desconsolado. Bem-aventurado. Todos esses sentimentos lindamente diversos, tudo de uma vez. A enorme quantidade de emoções que atravessava meu corpo eletrificava a energia que viajava do meu para o dele.
Eu sabia que nunca mais ia querer beijar outro homem do jeito que o beijei. Eu nunca soube que beijar poderia ser tão simples e tão complexo. Ele fez todo o trabalho, explorando meus lábios com os seus.
Ele me puxou para a lateral do Bar do Joe e minhas costas tocaram a parede de pedra. Ele chegou mais perto, e senti sua língua separar meus lábios, encontrando minha língua pronta para se tornar bem íntima da dele.
Quando ele me abraçou com mais força, minha perna se levantou para encontrar seus quadris. Um pequeno gemido saiu de minha boca quando suas mãos fortes apertaram minha bunda e me levantaram ainda mais alto, fazendo meu desejo egoísta de colocar minhas pernas em volta dele se tornar uma necessidade desesperada, a fim de lutar contra a gravidade. Como uma estrela errante, meu corpo caiu nas profundezas do desejo, e comecei a implorar aos céus para que isso não fosse uma fantasia causada pela depressão — mas que, se fosse, eu esperava nunca mais voltar para a realidade. Ele afastou sua boca da minha, deixando-me de olhos fechados e coração aberto. Eu podia sentir seu coração batendo por baixo da camisa, e ele colocou a mão sobre o meu. Palavras não eram necessárias, porque sentíamos tudo dentro de nós. Uma última vez, seus lábios encontraram os meus, quase sem tocá-los, como uma cerimônia de encerramento. Quando abri os olhos, encontrei o seu olhar, e ele sorriu para mim quando começou a explicar.
— Número 23.
Ele me baixou de volta para o chão lentamente. Olhei para a lista ainda em minha mão e rapidamente corri o olhar para o número 23.
Nº 23. Beijar um estranho.
Raios me partam. Beijei um estranho.
Meus olhos se levantaram da lista para encontrar Daniel sorrindo para mim. Ele deu três passos largos para trás e fez uma reverência.
— De nada — brincou.
Não pude conter minha alegria, e era inútil tentar. Girando com os braços abertos, deixei o ar da noite açoitar meu corpo. Vou poder abrir uma carta! Tive vontade de chorar, mas eu sabia que seriam lágrimas de felicidade.
Corri na direção de Daniel, e ele foi tomado de surpresa quando me joguei em seus braços para um abraço muito, muito apertado. Ele não vacilou e me levantou no ar, me girando algumas vezes, me abraçando também.
— Você não sabe o que isso significa para mim — sussurrei, querendo poder beijá-lo mais e mais.
Ele se afastou um pouco e me olhou, sorrindo.
— Vou deixá-la ir para casa para que você possa ler sua carta.
Ele me pôs no chão e nós caminhamos para a entrada do Bar do Joe. Daniel afagou meus ombros por um momento. Seus lábios se aproximaram dos meus, e, quando tocaram o canto da minha boca, senti uma onda de calor subir por meu corpo.
— Boa noite, Ashlyn — disse, tocando levemente a ponta dos meus dedos antes de dar um passo para trás, arrancando outro sorriso meu.
— Boa noite, Daniel Daniels. — Meu coração estava se perdendo em um mundo de desejo, e permiti que ele viajasse para aquele território desconhecido. Peguei minha bolsa e tirei dela o CD. — Ah, e só para você saber... vou levar você para a cama hoje à noite.
— Sou um cara de sorte. — Ele piscou para mim, e senti meu mundo estremecer. Passando as mãos pelos cabelos, ele abriu um largo sorriso. — Acho que agora é quando trocamos telefones. — Ele estendeu seu celular para mim e fiz o mesmo com o meu. Depois de digitar meu número, desfizemos a troca.
— Não devo ligar primeiro porque não quero parecer desesperada. — Eu sorri.
— E eu não vou ligar primeiro porque quero que você pense que eu talvez possa estar falando com outras meninas.
Ah, as coisas que ele me faz sentir. Eu não me sentia assim há tanto tempo.
— Bem, obviamente, não há outras meninas. Você já se olhou no espelho? Você é
medonho.
— Ah, é?
— É. Garotas não gostam de sorrisos encantadores, braços musculosos, nem de barrigas saradas... — Ele rapidamente pegou as minhas mãos e passou-as pelo seu abdômen. Suspirei, sentindo um desejo ardente ao tocar seu corpo. — Barriga de tanquinho. — Meu rosto corou mais, mas torci para que ele não percebesse.
— Então do que é que as meninas gostam? — Ele cruzou os braços.
— Você sabe, das coisas normais. Um pouco de pelo no nariz. Alguns queixos duplos para beijar. Um mamilo a mais ou três. O de sempre.
Ele riu, e eu queria me aconchegar nele para sentir a propagação daquele riso através de seu corpo.
— Vou ver o que posso fazer. Não quero ser... Que palavra que você usou?
— Medonho.
— Certo. Eu odiaria ser medonho aos seus olhos.
Houve uma última rodada de sorrisos antes de ele se virar e eu começar a caminhar em outra direção.
— Ei, Ashlyn! — Ele gritou, e eu me virei. Esperei por seu comentário, com uma expressão de curiosidade no rosto. — Gostaria de ter outra noite muito estranha comigo dia desses? Tipo, talvez terça-feira à noite?
Sim! Sim! Por tudo que é mais sagrado, sim!
— Sabe de uma coisa? Acho que consigo encaixar você na minha agenda.
— Você conhece a biblioteca na Harts Road?
Não. Eu não conhecia. Mas procuraria na internet assim que chegasse em casa e descobriria onde ficava.
— Vou descobrir.
— Legal. Apareça lá pelas seis horas.
— Encontro marcado. — Percebi minhas palavras e fiz uma pausa, batendo a mão na lateral do corpo. Minhas bochechas coraram e botei as mãos na cintura. — Quer dizer, é um... é... estarei lá. A gente se vê. Ele riu e se virou.
— Beleza. É um encontro, encontro.
Ele falou em dobro.
E eu estava oficialmente encantada."
Boa leitura,
Cameron.